10 de maio de 2012

O pão que o ocidente amassou?


Anders Breivik provou ao mundo, se mais uma vez fosse necessário, o que o Homem tem de pior. Além da carnificina (77 mortos), também a frieza e o calculismo com que terá engendrado todo o seu plano. Mas Breivik não é, lamentavelmente, um caso único e isolado. Há muito tempo que o fenómeno de contestação da sociedade multicultural deixou de ser representado por um amontoado de neo-nazis, ou cabeças rapadas, que se juntavam no bar da esquina para beber cerveja e pintar suásticas nas paredes do bairro. Este foi um cenário, agora naive, dos anos 80 e 90 do século passado. Como as coisas mudaram. Um progressivo e forte crescimento económico em todo o ocidente das últimas décadas fez com que deixássemos de ouvir falar destes episódios, que passaram à condição de quase esporádicos. No entanto eis que ressurgem agora, em força, mortíferos e inesperados, numa época de profunda crise económica e de falta de emprego um pouco por toda a Europa. Breivik, para nosso mal, não é um caso isolado, e enquanto não arrumarmos os atuais desequilíbrios financeiros e económicos, e retomarmos o rumo do crescimento económico, em qualquer altura surgirão outros Breivik’s que, sob formas diversas, colocarão em causa o frágil equilíbrio das sociedades multiculturais ocidentais. E, qual espetro do terrorismo muçulmano, ele quis demonstrar que existe um terrorismo ocidental, capaz de provocar vítimas entre os seus concidadãos. E como não bastasse, Breivik deixa uma questão complicadíssima para a justiça responder: é que se não o absolverem, deverão condená-lo à morte. Enfim, um verdadeiro e labiríntico pesadelo! 

A regra é falar da crise, a exceção é solucioná-la


Não fujo à regra estabelecida, de comentar os tempos difíceis por que estamos passando. Palavra tantas vezes dita e repetida, a crise, está aí, com todas as consequências que ela acarreta, alimentada também por um faz que anda, mas que, na verdade, não anda muito. A solução é complexa, necessita de reformas estruturais, de políticas adaptadas aos tempos que vivemos, e sobretudo precisa de tempo. A crise não é apenas de origem económica. Antes fosse, pois assim teríamos, como no passado, outras formas de rapidamente sairmos dela. É também das finanças públicas. E a realidade é inegável: o Estado Português estava falido. E se há quem repita esse fato até à exaustão, não é porque admire o dramatismo da expressão, mas antes porque não havia mesmo dinheiro para suportar os gastos do Estado de curto, de médio e de longo prazo. E quem não tem dinheiro, ou porque não o soube gerir, ou porque gastou para além das suas possibilidades, pede emprestado, e sujeita-se às regras definidas por quem empresta. No entanto, como muitos portugueses, acredito que uma nova consciência e uma nova ordem de valores políticos, éticos e sociais, possam novamente colocar-nos no caminho da prosperidade económica e do crescimento do emprego. O que não se entende é que alguns responsáveis políticos nos queiram lavar o cérebro e convencer-nos que afinal não foi nada com eles. A memória não nos traiu! 

publicado em Açoriano Oriental, 10 de maio

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