Anders Breivik provou ao mundo, se mais uma vez fosse
necessário, o que o Homem tem de pior. Além da carnificina (77 mortos), também
a frieza e o calculismo com que terá engendrado todo o seu plano. Mas Breivik
não é, lamentavelmente, um caso único e isolado. Há muito tempo que o fenómeno
de contestação da sociedade multicultural deixou de ser representado por um
amontoado de neo-nazis, ou cabeças rapadas, que se juntavam no bar da esquina
para beber cerveja e pintar suásticas nas paredes do bairro. Este foi um
cenário, agora naive, dos anos 80 e 90 do século passado. Como as coisas
mudaram. Um progressivo e forte crescimento económico em todo o ocidente das
últimas décadas fez com que deixássemos de ouvir falar destes episódios, que
passaram à condição de quase esporádicos. No entanto eis que ressurgem agora,
em força, mortíferos e inesperados, numa época de profunda crise económica e de
falta de emprego um pouco por toda a Europa. Breivik, para nosso mal, não é um
caso isolado, e enquanto não arrumarmos os atuais desequilíbrios financeiros e
económicos, e retomarmos o rumo do crescimento económico, em qualquer altura
surgirão outros Breivik’s que, sob formas diversas, colocarão em causa o frágil
equilíbrio das sociedades multiculturais ocidentais. E, qual espetro do
terrorismo muçulmano, ele quis demonstrar que existe um terrorismo ocidental,
capaz de provocar vítimas entre os seus concidadãos. E como não bastasse,
Breivik deixa uma questão complicadíssima para a justiça responder: é que se
não o absolverem, deverão condená-lo à morte. Enfim, um verdadeiro e
labiríntico pesadelo!
A regra é falar da crise, a exceção é solucioná-la
Não fujo à regra estabelecida, de comentar os tempos difíceis
por que estamos passando. Palavra tantas vezes dita e repetida, a crise, está aí, com todas as consequências que
ela acarreta, alimentada também por um faz que anda, mas que, na verdade, não
anda muito. A solução é complexa, necessita de reformas estruturais, de
políticas adaptadas aos tempos que vivemos, e sobretudo precisa de tempo. A
crise não é apenas de origem económica. Antes fosse, pois assim teríamos, como
no passado, outras formas de rapidamente sairmos dela. É também das finanças
públicas. E a realidade é inegável: o Estado Português estava falido. E se há
quem repita esse fato até à exaustão, não é porque admire o dramatismo da
expressão, mas antes porque não havia mesmo dinheiro para suportar os gastos do
Estado de curto, de médio e de longo prazo. E quem não tem dinheiro, ou porque
não o soube gerir, ou porque gastou para além das suas possibilidades, pede
emprestado, e sujeita-se às regras definidas por quem empresta. No entanto,
como muitos portugueses, acredito que uma nova consciência e uma nova ordem de
valores políticos, éticos e sociais, possam novamente colocar-nos no caminho da
prosperidade económica e do crescimento do emprego. O que não se entende é que
alguns responsáveis políticos nos queiram lavar o cérebro e convencer-nos que
afinal não foi nada com eles. A memória não nos traiu!
publicado em Açoriano Oriental, 10 de maio
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