26 de janeiro de 2011

Ora ponham-se no lugar dele!

Na sinopse pode ler-se o seguinte: "Num mundo de competição global e numa época em que a reputação de uma organização ou de um líder pode ser arruinada com um simples clique, a transparência torna-se muitas vezes uma questão de sobrevivência".

O livro Transparência, como os líderes podem criar uma cultura de sinceridade (edição da Gradiva) juntou três gurus mundiais de campos diversos da investigação humana e social: Daniel Goleman, Warren Bennis, James O'Toole e ainda Patricia Ward Biederman. 

Nestes últimos dias, alguma coisa me atraiu neste livro, levou-me a tirá-lo da estante e voltar a reler algumas das suas páginas. Não é intenção reaprender um código de conduta ou uma moral, mas pareceu-me pertinente compreender as razões que levaram o recém-eleito presidente, Aníbal Cavaco Silva, no último domingo, a ter o discurso que teve no momento da vitória. Foi um discurso duro, pouco amistoso, mas que outra saída deixaram os seus adversários depois de semanas consecutivas de ataque cerrado à sua vida pessoal e, pior, ao seu carácter?  É claro que Cavaco poderia ter convidado os seus adversários detractores (Alegre + Nobre + Lopes + Coelho + Moura) para um almoço de cortesia, e com isso talvez ganhasse uma invejável sobranceria ética sobre esses mesmos senhores. Talvez pudesse ter-se dirigido a eles com um tom mais complacente e generoso. Talvez até poderia ter ignorado todos os ataques de que foi alvo. Mas talvez expressa uma dúvida que talvez expresse uma digna revolta. E, mais grave, custa-nos aceitar que mesmo passados dois dias da vitória de ACS, se continue a fazer eco de um discurso dito rancoroso, dito ressabiado, dito pouco generoso. Sobretudo de sectores com responsabilidades políticas que sentem cada vez menos os seus argumentos como válidos para inverterem os problemas que o país atravessa.

Nos boletins de voto, Aníbal Cavaco Silva não terá sido a melhor opção de escolha para muitos portugueses. Mas muitos portugueses não votaram por uma questão de estilo ou de estética. Votam na pessoa ou no projecto que lhes merecem a confiança e a credibilidade. 

Aníbal Cavaco Silva conteve-se de reagir durante semanas das intenções mais bizarras e acrimoniosas: pediram a sua demissão; que suspendesse o mandato de presidente (para quê, para ir ajudar a fazer as contas do governo?); que esclarecesse a permuta de um terreno; houve quem fosse até à casa de férias do senhor com um batalhão de repórteres numa das romarias mais cínicas de que tenho memória; vieram gentes de Boliqueime maldizer do senhor... Por tudo isso, acredito que o copo tenha transbordado, e o discurso é um ponto final bem rematado.

Desenganem-se, pois, aqueles que julgam que vem aí um tempo de vinganças e perseguições institucionais, ajustes de contas palacianos, e toda a consorte de maldições próprias daqueles que, por limitação de carácter, verdadeiramente não têm mais nada para demonstrar.

E convenhamos dizer que Aníbal Cavaco Silva tem uma personalidade sui generis, admitamo-lo sem falsas reservas. Não é fácil por vezes aderirmos ao seu modus operandi. Mas a pergunta que se coloca é a seguinte: não terá tido ele legitimidade nas palavras que utilizou no discurso da vitória? Porque honestamente: coitadinhos dos visados, só faltava mesmo exporem as feridas, quais ofendidas virgens!

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