7 de novembro de 2010

Daqui e Dali


Apenas coincidência insólita, sem relação nenhuma, digna de registo: Luís Sepúlveda escreveu um livro chamado As rosas de Atacama, deserto onde se deu a tragédia dos 33 mineiros chilenos em Agosto último; O mesmo Sepúlveda regressa este natal com o livro Histórias daqui e dali.
Em boa hora a nova editora do autor disponibilizou na sua página internet dois contos desse mesmo livro. Aqui encontrará a sinopse, assim como os PDF's dos contos "Um cão chamado Edward" e "Um velho de que não gosto". Eis uma excelente e inovadora forma de se promover um livro, convidando os leitores a uma leitura matinal ainda de chávena com café a fumegar. É só linkar e salvar para o computador.
Depois de ler estes contos, apetece ter o livro nas mãos. São histórias por vezes muitos cruas, plenas de um realismo que muitas vezes desemboca em algum absurdo, mas que terminam num desfecho narrativo muito natural.
Já me referi neste mesmo blogue que Luís Sepúlveda nunca se atreveu a escrever um romance que respirasse fôlego e profundidade, como os há incontáveis, com mais ou menos qualidade aceitável. A arte de Sepúlveda não está pois em escrever uma ficção complexa em 400 páginas, mas em contar acima de tudo uma boa história. Ele é exímio em contar histórias, boas histórias, e consegue economizar nas palavras de modo a não cansar o leitor. Ele até poderia ficar para ali a escrever interminavelmente, a ruminar a acção ao limite, suspendendo a história, recuando, avançando. Porém, o seu estilo é sucinto, diria mesmo perfeito, escorreito e preciso. Escreve o que tem a dizer. E chega!
Mal amado por uns, por ter ideias marcadamente de esquerda, bem amado por outros, por incansavelmente escrever sobre as condições de vida de muitos seres humanos. Na minha opinião, isto de ser de esquerda ou de direita é coisa que não preocupa os grandes autores. É uma ficção pouco sólida de "outsiders".
Lembro-me dos livros de Sepúlveda serem publicados na colecção Pequenos Prazeres, livros de formato reduzido, de capa preta, da ASA, que tinha outros tantos autores como David Lodge, Milan Kundera, Camilo José Cela, Gabriel García Marquéz, José Prata, João Aguiar, Martin Page, entre muitos outros. Mas quis o destino que Luís Sepúlveda viajasse até outra editora. Agora é editado pela Porto Editora. Esperamos pelo novo livro, Histórias daqui e dali, que deu origem a este post.

Para os interessados em saber mais sobre a vida e a obra de Luís Sepúlveda. Aviso desde já que a entrada não está devidamente actualizada. 

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