21 de fevereiro de 2010

A sombra do que fomos, Luís Sepúlveda

Sou a sombra do que fomos e enquanto houver luz existiremos.

Tolerância e despreconceito (até daria um bom título de livro) das pessoas com ideias políticas à direita, são os condimentos para ler este último trabalho literário do chileno Luis Sepúlveda, um autor com ideias políticas bem vincadas à esquerda.
Para quem se deu já ao trabalho de folhear e ler Patagónia Express (ASA, Setembro de 1998), Diário de um Killer Sentimental (ASA, Julho de 1999), As Rosas de Atacama (ASA, Novembro de 2000), O Poder dos Sonhos (ASA, Setembro de 2006), desemboca neste A sombra do que fomos (Porto Editora, Outubro de 2009) e fica com a sensação de um Sepúlveda muito mais maduro. Ao atributo de ser um excelente contador de histórias, junta-se agora sobretudo a maturidade da sua escrita, impressionante do ponto de vista narrativo-argumentativo. Não acredito muito que este autor fosse capaz de escrever bons romances de 500 páginas, mas testemunho que é dos melhores contistas/novelistas de que tenho memória na conta dos livros lidos até à data.
O livro pinta-nos um cenário de decadência do Chile pós-Pinochet, quando um grupo de sexagenários ex-militantes de esquerda derrotados pelo golpe de estado do ditador, entretanto exilados, decidem fazer uma arrojada acção revolucionária, tendo esta falhado à partida.
Um texto de leitura rápida, em momentos imprevisível, noutros momentos desconcertante, o livro tem só 160 páginas, e embala-nos através de uma cadência comovente, como é capaz de nos despertar algumas gargalhadas.
Este livro é dedicado pelo autor às companheiras e companheiros que caíram, se levantaram, curaram as feridas, conservaram o riso, resgataram a alegria e continuaram a caminhar.

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