12 de agosto de 2015

Do pântano

in Açoriano Oriental, 6 de agosto de 2015

Frequentemente dou por mim a pensar que o “combustível” que faz crescer um país economicamente não é apenas o de origem fóssil. 

O precioso carburante económico, pelo contrário, vive bem no meio de nós: somos nós. É o principal! 

Ou seja: a massa de recursos humanos de um pais, a sua inesgotável capacidade de criar, transformar e produzir, é capaz de, per si, fazer crescer uma economia, gerar emprego, distribuir riqueza, preparar o futuro e desonerar de certa forma o peso excessivo do estado na economia. O debate deveria estar na ordem da agenda política. Mas isso exigiria muito mais do que um pacto de regime entre os maiores partidos, talvez uma espécie de concordata política que vigorasse para, pelo menos, um período geracional.

Era esta coerência que eu gostaria de ouvir dos partidos políticos que apregoam crescimento e sustentabilidade. Ao invés, ouvimos recorrentemente promessas e compromissos que sabem serem impossíveis de cumprir, mas insistem em fazer-nos acreditar que o eldorado é possível. Um país enriquece se investir estrategicamente os recursos financeiros disponíveis naquilo que é capaz de produzir e vender ao exterior, esperando um retorno justo e suficiente. 

Em Portugal habituamo-nos ao conceito errado de que injetar dinheiro na economia gera crescimento. Apesar de haver Prémios Nobel que defendam estas medidas para países como o nosso, nada mais errado. 

No fundo a economia lusa é muito daquilo que somos culturalmente, e estamos sempre em busca de termos para justificar as nossas fragilidades tradicionais. Metáforas como o “pântano”, ou “o país está de tanga”, tornaram-se paliativos para arriar a grande alma portuguesa, e reduzir a nossa tímida capacidade de sermos empreendedores e criativos na busca de soluções diferentes para problemas antigos. 

Mas a realidade é que o país confrontou-se finalmente com a verdade derradeira. E, ou mudamos de uma vez por todas, ou afundarmo-nos é um pequeno passo. 

Não queremos voltar a um passado despesista, improdutivo e despreocupado com o futuro, porque sabemo-lo, a custo, que os recursos não são infinitos, e quando parecem ser, cedo ou tarde, pagamo-los com juros, desemprego e austeridade.

Lembro-me sempre de como estava o país em maio de 2011, quando da chegada da troika, e de como esta saiu na data prevista, três anos depois, com um cenário macro-económico como há muito se não via. O resto da história já todos conhecem. 

Foi assim em Portugal. Não foi assim na Grécia. A nossa história recente é a história da nossa dívida. E, como tal, repito, não podemos esquecer. Não são tempos de sim senhores ministros, como não são tempos de carpideiras. O futuro é coisa séria e deve ser responsabilidade de cada português. Todos fomos e seremos chamados a fazer parte da solução. E hoje que a névoa assentou já, vemos com mais facilidade algumas opções difíceis que os governantes atuais tiveram de tomar. Esta é a verdade. Tudo o resto é politiquice e caça ao voto.

Luís Soares Almeida

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