15 de maio de 2015

Organizem-se

Se fosse feito um inquérito exaustivo ao estado de salubridade das democracias europeias ocidentais, arrisco dizer que teríamos resultados surpreendentes. Isto porque – arrisco novamente - se perguntarem aos jovens (sobretudo dos países do sul) se confiam nos seus políticos, a resposta será pouco complacente: Não, não confiamos! E por que motivo confiariam, pergunto eu?
E não é pelas democracias do norte da Europa estarem melhores que as do sul que digo o que digo, mas sempre as do norte pagam impostos e sentem-se felizes. E vivem numa espécie de pacto social tranquilo e frutífero.
É mais a sul que estão secularmente enraizados determinados hábitos e comportamentos que comprometem os índices de uma democracia sã. Reparem na quantidade de políticos desastrosos que governaram a Europa, a sul, nas últimas décadas, todos eles abraçados a défices públicos ruinosos, e, o que é pior, a interpretações totalmente desajustadas dos problemas por que tiveram de passar, e as consequências averbadas dessas políticas erradas. E tanto saíram como rapidamente – alguns – querem voltar, como se não lembrassem mais da sua efémera passagem pelo poder. Há inúmeros maus exemplos de indivíduos que fazem da política a sua carreira profissional. E não é assim que deveria ser.
A política é uma opção temporária na vida de uma pessoa, não dura para sempre, nem a lei deveria permitir a perpetuação da ocupação de um cargo político por períodos demasiado longos de tempo. Ou cargos alternados. Ou interrompidos. Aliás, a lei deveria prever os anos que poderiam ser dedicados aos cargos políticos ao longo da vida de um cidadão. Sim, a discussão é longa, eu sei.  
Mas seja como for, as democracias estão a mudar. E vão mudar ainda mais. É inerente à condição da sociedade humana. É inerente à nossa dinâmica. Nós não evoluímos regressando ao passado. O futuro é sempre amanhã e é para a frente. É condição obrigatória que estas mudanças nos tragam melhores políticos e governantes de longo prazo, ágeis e inteligentes o suficiente, e que tracem novas rotas de desenvolvimento sustentado. E tanto quanto possível que essa nova vaga de governantes cumpram as leis e as regras de uma urbanidade algures perdida no tempo. Para bem do Estado. Das Nações. E do Futuro.
Se os jovens europeus, e não só jovens, e não só europeus, não confiam nos seus representantes políticos, então a democracia está enferma.
Far-nos-ia bem regressar às raízes profundas da história da democracia no ocidente. Constataríamos que a democracia dos nossos dias é diferente da democracia que os nossos pais usufruíram, não estruturalmente (porque aí a democracia não pode mudar, senão não seria democracia), mas colateralmente. A própria essência da democracia mudou. E devemos mudar com ela. Rapidamente e sem dor.
Publicada in Açoriano Oriental, 14 de maio de 2015

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