8 de novembro de 2012

Arrumar a casa, apanhar o comboio do futuro


Uma primeira e breve palavra para elogiar a forma como Vasco Cordeiro nos surpreendeu a todos. Logo em primeiro lugar pela vitória inequívoca. Depois pela formação do governo. Não sendo eu da sua área política, não deixo de notar como o PS-Açores soube fazer uma transição impoluta e tranquila de líder e de governo, facto que já nos tinham habituado aquando das renovações de candidatos a presidentes de município, onde, por sinal, experimentaram a vitória na maioria dos casos. Dizem que é a real politique, mas o que sabemos é que enquanto uns governam sem grandes complicações, outros terão de aprender o caminho de regresso a casa, e daí arrumá-la, e seguir novamente em frente.

Deixemos os rodeios. O que acontece é que o PSD-Açores, principal vencido das últimas eleições, deverá entrar numa profunda reflexão e debate interno.

Uma reflexão profícua e um debate emergente. A sua responsabilidade social e política para com os açorianos não pode confinar-se à derrota de 14 de outubro. A sua responsabilidade é mais profunda e mais antiga.

E, com o devido respeito, para o PSD-Açores é tempo de profunda adaptação ao mundo difícil em que vamos vivendo. E um duplo objetivo impõe-se: arrumar a casa e relançar um projeto que foi já um dia vencedor e que mereceu a confiança da maioria dos açorianos. Claro que os dias doirados do advento da autonomia não voltam mais. Os desafios são outros: a autonomia, ainda que consolidada, necessita ser reinventada, e rapidamente.

Já o escrevi: o PSD é necessário para o equilíbrio democrático nos Açores. De modo que não interessa a ninguém a fraca representatividade política e parlamentar que tem no presente.

A reforma do partido para os combates que vão entretanto atravessar não pode novamente ser feita com os olhos postos no próximo ato eleitoral – autárquicas -, visto que o plano que necessita é de médio e de longo prazo. O partido reformar-se-á porque o tecido político e social também se transformou. As questões sociais, politicas e, até económicas, de hoje, não são mais as de ontem. A situação internacional, aliada a uma crescente falência de políticas sociais de proteção, a baixa produtividade, a falta de financiamento e a pouca diversidade da atividade económica, e também o nosso excessivo endividamento, podem atirar a região para uma zona geográfica de exclusão social tenaz.

A situação não é apenas delicada, como também de profunda apreensão.

Numa época em que o futuro deve ser encarado com filtros renovados, dispensando-se os falsos visionários adivinhatórios, mas investindo em recursos experientes e preparados, de tal modo que antecipem as soluções para novos problemas e novas realidades. O futuro programa-se com muito trabalho de equipa e cooperação. O PSD-Açores tem sido laboratório de experiências de sucessivos líderes e disputas de bastidor que, em rigor, não acrescentaram valor nenhum a ninguém. Esperamos não ter de repetir a ladainha da mudança, muitas vezes já expressas por inúmeras vozes, o que significaria que a regeneração, a evolução e a ordem natural das coisas não se teria imposto por si própria.

Naturalmente que as mentalidades começam a evoluir. O futuro fará dele um partido diferente: nos argumentos, sem entrar em demagogias; nos recursos humanos, sem excluir ninguém; na ideologia, sem perder o seu ADN.

É tempo de arrumar a casa, hierarquizar os papéis e apanhar o comboio que levará ao futuro.

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