Uma
primeira e breve palavra para elogiar a forma como Vasco Cordeiro nos
surpreendeu a todos. Logo em primeiro lugar pela vitória inequívoca. Depois
pela formação do governo. Não sendo eu da sua área política, não deixo de notar
como o PS-Açores soube fazer uma transição impoluta e tranquila de líder e de
governo, facto que já nos tinham habituado aquando das renovações de candidatos
a presidentes de município, onde, por sinal, experimentaram a vitória na
maioria dos casos. Dizem que é a real politique, mas o que sabemos é
que enquanto uns governam sem grandes complicações, outros terão de aprender o
caminho de regresso a casa, e daí arrumá-la, e seguir novamente em frente.
Deixemos
os rodeios. O que acontece é que o PSD-Açores, principal vencido das últimas
eleições, deverá entrar numa profunda reflexão e debate interno.
Uma
reflexão profícua e um debate emergente. A sua responsabilidade social e
política para com os açorianos não pode confinar-se à derrota de 14 de outubro.
A sua responsabilidade é mais profunda e mais antiga.
E,
com o devido respeito, para o PSD-Açores é tempo de profunda adaptação ao mundo
difícil em que vamos vivendo. E um duplo objetivo impõe-se: arrumar a casa e
relançar um projeto que foi já um dia vencedor e que mereceu a confiança da
maioria dos açorianos. Claro que os dias doirados do advento da autonomia não
voltam mais. Os desafios são outros: a autonomia, ainda que consolidada, necessita
ser reinventada, e rapidamente.
Já
o escrevi: o PSD é necessário para o equilíbrio democrático nos Açores. De modo
que não interessa a ninguém a fraca representatividade política e parlamentar
que tem no presente.
A
reforma do partido para os combates que vão entretanto atravessar não pode
novamente ser feita com os olhos postos no próximo ato eleitoral – autárquicas
-, visto que o plano que necessita é de médio e de longo prazo. O partido
reformar-se-á porque o tecido político e social também se transformou. As questões
sociais, politicas e, até económicas, de hoje, não são mais as de ontem. A
situação internacional, aliada a uma crescente falência de políticas sociais de
proteção, a baixa produtividade, a falta de financiamento e a pouca diversidade
da atividade económica, e também o nosso excessivo endividamento, podem atirar
a região para uma zona geográfica de exclusão social tenaz.
A
situação não é apenas delicada, como também de profunda apreensão.
Numa
época em que o futuro deve ser encarado com filtros renovados, dispensando-se
os falsos visionários adivinhatórios, mas investindo em recursos experientes e
preparados, de tal modo que antecipem as soluções para novos problemas e novas realidades.
O futuro programa-se com muito trabalho de equipa e cooperação. O PSD-Açores
tem sido laboratório de experiências de sucessivos líderes e disputas de
bastidor que, em rigor, não acrescentaram valor nenhum a ninguém. Esperamos não
ter de repetir a ladainha da mudança, muitas vezes já expressas por inúmeras
vozes, o que significaria que a regeneração, a evolução e a ordem natural das
coisas não se teria imposto por si própria.
Naturalmente
que as mentalidades começam a evoluir. O futuro fará dele um partido diferente:
nos argumentos, sem entrar em demagogias; nos recursos humanos, sem excluir
ninguém; na ideologia, sem perder o seu ADN.
É
tempo de arrumar a casa, hierarquizar os papéis e apanhar o comboio que levará
ao futuro.
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