13 de setembro de 2012

O sórdido legado

Açoriano Oriental, 13 de setembro de 2012

Como qualquer português consciente, recebi com alguma apreensão as novas medidas de austeridade anunciadas por Pedro Passos Coelho. Certamente, não são boas notícias. Certamente, vai seguir-se um ambiente difícil e aturado no país. Certamente, até poderia haver outro caminho. Mas qualquer outro partido que estivesse a governar o país, teria tomado estas medidas ou outras, tão ou mais duras, que afetariam de uma ou de outra maneira muitos cidadãos, em nome da estabilidade financeira das contas públicas.
    O resultado, para já, anunciado a grandes parangonas em espaços editoriais e redes sociais, é que o país vai viver meses de intratável contestação social e sindical, greves a seguir a greves, paralisando o país, tornando-o ainda mais improdutivo. E se estávamos, coletiva e metaforicamente, maltrapilhos - “de tanga”, como disse Durão Barroso – ficaremos um pouco pior. Porém, numa época de sacrifício coletivo nacional, parece-me que este não é o momento para apelar à greve, pois em nada vai ajudar as finanças do país e as contas do governo. E, em última análise, o nosso futuro como país!
    Mas a crise complexa em que estamos mergulhados tem uma origem que não esqueceremos.
    Rebobinemos o filme.
    Olhemos para números. A dívida pública portuguesa em 2000 era de 66 100 000 000 de euros; Em 2004, 79 000 000 000 de euros; E em 2011 atingiu o número fantástico e memorável (diga-se, catastrófico) de 150 000 000 000 de euros. Ou seja: como se explica que no período entre 2004 e 2011, quando atingimos o máximo mais alto, foi possível termos uma dívida pública correspondente a cerca de 90% do nosso Produto Interno Bruto? Pergunta-se: como não haveríamos de chegar onde chegamos?
    E quem foi que, falando sobre a crise europeia, terá dito em 3 de novembro de 2011 em Paris, durante uma conferência, que “para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança.”
    O responsável pela duplicação da dívida pública em sete anos para quase o dobro, é o mesmo que pronunciou as palavras confrangedoras de que pagar uma dívida é uma ideia de criança, transcrito acima. E esse responsável tem um nome, sabemos bem quem foi. E de finanças públicas, está provado, que o engenheiro Sócrates percebe zero. E de políticos com comportamento marcadamente acidental estamos nós pelos cabelos.
    E convicções ideológicas à parte, sem preconceitos político-partidários, o que esperam que faça um Primeiro Ministro responsável: que nos diga a verdade da debilidade das nossas contas públicas e tome as medidas necessárias, por muito duras que estas sejam, para saneá-las? Ou que nos toque a cantiga do bandido e nos prometa um oásis doirado que não existe?
    Concordo parcialmente com o editorial do jornal Público do último domingo, quando escrevem “que é difícil a uma sociedade aguentar tanto”. Mas diz-nos também a verdade que é difícil a um Estado suportar fardo tão pesado sem implementar uma política económica sustentável. Em nome do futuro do país e das gerações mais novas que são, em absoluto, as menos responsáveis por todo o caos financeiro instalado. A minha geração seguramente que não vai esquecer tão cedo os 150 000 000 000 de dívida pública atingida em 2011. Não queiramos que as próximas se recordem!•



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