24 de outubro de 2013

O Hotel Casino e os indignados da Calheta

Há uns anos atrás participei, por convite, no lançamento da primeira pedra de uma estrutura mista de hotel cinco estrelas e galerias comerciais adjacentes, no local da ex-Calheta de Pêro de Teive em Ponta Delgada. Houve direito a ambiente festivo. Bênção clerical incluída!
No entanto, em paralelo com a cerimónia, com a pompa, e com a circunstância, também houve discursos que apelavam aos empreendedores das nossas ilhas, para que investissem no futuro com confiança. Que arriscassem novas oportunidades de negócio, pois o progresso estava a um palmo de tempo de distância. Enfim, o futuro batia-nos à porta, não interessava se os estudos de impacto e viabilidade económica dissessem até o contrário. O importante era reunir três coisas essenciais: massa crítica, financiamento, contratos, e nada correria mal. Repito: o futuro batia-nos à porta.
Bem, não querendo hoje aqui fazer prova de que um determinado conceito de futuro é melhor do que outros (até porque soaria a alguma falsidade), não se viu futuro brilhante por aquelas paragens, e até as paredes levantadas que lá estão revelam uma tonalidade que até dá dó. E os empreendedores, que entre nós são verdadeiramente raros e preciosos, e estão indevidamente apetrechados e apoiados, quiseram não avançar, e não que os faltasse coragem e adrenalina, mas já que gerem negócios bem mais rotinados e estruturados do que aqueles que lhes prometiam os altifalantes discursivos da festa, mais valia jogar pelo seguro. 
Semanas mais tarde, fomos convocados para uma reunião… E as minhas incertezas aumentaram exponencialmente. E das duas, uma: quem estava a liderar o processo de comercialização dos espaços comerciais ou não acreditava naquilo que fazia, ou mal disfarçava perceber pouco do assunto. Contudo, não sendo do género de tirar ilações precipitadas, falei com outros visados e sondei o que acharam das entrevistas. Sabem a resposta? O sentimento era o mesmo. Qualquer coisa não batia certo. O que se veio tempestivamente a verificar.
Hoje, o inacabado Hotel Casino está lá, mais os seus mal enquadrados anexos, mas não nos fará esquecer os delírios que foram então cometidos. É só mais um elefante branco entre tantos outros!
Repito: hoje o Hotel Casino mais os barracões anexos permanecem lá, sem ninguém perceber muito bem como vai acabar toda esta história. Os habitantes da zona bem que se podem queixar. Toda e qualquer ação popular legítima que denote a indignação, é um pequeno passo para pressionar o poder político responsável, chamando-o à razão e sobretudo à ação. Para já, move-se com coragem e com soluções concretas o poder municipal de Ponta Delgada. 
E nem mesmo a propósito, desenvolvi o conceito, que até pode nem ser muito inovador, que assenta numa mistura de compreensão e empreendedorismo, chamado compreendedorismo. Ou trocado por miúdos: não empreendas sem que primeiro compreendas. E esta é uma lição de grande simplicidade.•  
 
Luís Almeida

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