17 de abril de 2015

O primado das (boas) ideias


Um dos mitos modernos sobre o crescimento de uma economia é a disponibilidade suficiente de recursos financeiros que permitam o investimento multiplicador.
Não sendo eu um especialista na matéria, pelo menos academicamente, permito-me discordar totalmente de tal raciocínio.
Ou seja: numa possível hierarquia de condicionalismos favoráveis ao desenvolvimento de uma Economia, a disponibilidade, abundante ou não, de recursos e instrumentos financeiros, per si, vale muito pouco. O dinheiro sozinho não é criativo nem gera ideias, e o que determinará, ou não, o sucesso de um determinado negócio, pouco terá que ver com ele.
Deste modo, o ponto fulcral do sucesso sustentado de uma empresa, ou de uma economia, está mais perto da geração de grandes e boas ideias, passíveis de, perante um determinado montante investido, gerar receitas suficientes para a sua manutenção e/ou crescimento.
Por isso o investimento primeiro deveria ir todo para o desenvolvimento de sistemas cognitivos e informacionais que qualificassem melhor os agentes que mais tarde terão a possibilidade e a ventura de se tornarem investidores.
Um famoso líder chinês do século XX, ao visitar uma turma finalista de engenheiros numa famosa universidade, aconselhou os alunos a estudarem de seguida inteligência emocional e competências humanas. E este é o busílis ao qual muitos resistem. O empresariado português – não todo, mas algum – preferiu, durante demasiado tempo, o lucro fácil que permitia passear nas avenidas largas todo o tipo de exuberância material, em vez de alocar a riqueza decorrente dos seus negócios ao auto investimento e ao investimento nos seus colaboradores, sobretudo em ofertas formativas adequadas e progressivas às necessidades futuras. Esta é uma evidência muitas vezes escamoteada, e numa altura em que o país está a braços com dificuldades, não deixa de ser verdade refletir que esse mesmo país não soube aproveitar oportunidades historicamente favoráveis de que beneficiou.
Pode parecer completamente supérfluo, mas o desenvolvimento alicerçado em grandes ideias melhora a vida das pessoas e permite cimentar a sustentabilidade de uma economia. O resultado do investimento cognitivo e informacional, por vezes imensurável em 10 anos, leva tempo e corre no longo prazo. Não sendo ninguém dono de uma verdade absoluta, que diga exatamente como fazer e ter sucesso – isso só existe no cinema -, poderíamos ser, quiçá, um pouco mais humildes e parar de reclamar tantos direitos e exigi-los em públicas manifestações e greves que, não só nos faz atrasar ainda mais, como coarta o fluxo das ideias (boas) de que tanto necessitamos.
E um trabalho que está por fazer é o estudo das “socalled” ideias empreendedoras que originaram empresas financiadas, e o tempo que foram capazes em manter-se abertas por um período mais ou menos longo de tempo, bem como o retorno e o benefício que as mesmas devolveram à economia. E os resultados do estudo que servissem de alavanca de reorientação das prioridades futuras de investimento na Europa, no país e na região.
in Açoriano Oriental, 5ª feira, 16 de abril de 2015.

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