2 de março de 2013

Fernanda vs. Miguel

Ideias há muitas

Fernanda Câncio não gosta de Miguel Relvas. Mesmo nada - fez questão de sublinhar isso mesmo em crónica da passada semana. E não gosta apenas do ministro, como do político, deplora o discurso, execra-o a propósito das pressões que fez a uma jornalista do Público, sentencia o modo como fez oposição durante anos, envergonha-se do trabalho dele enquanto ministro da tutela da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, mas sobretudo, releva Fernanda, deplora o convite que dirigiram ao ministro para falar de jornalismo no ISCTE.
Até aqui vamos todos bem, habituados que estamos a que alguns julguem que lavar roupa suja nos seus espaços públicos de opinião serve para alguma coisa que não manchar o mesmo espaço com mais roupa suja. Mas o que têm os portugueses, onde eu me incluo, a ver com os sentimentos que Fernanda nutre por Miguel? Interessa-nos para que amanhã sorridente e carregadinho de esperança no futuro? Conseguirá o desprezo que Fernanda sente por Miguel ressuscitar uma onda de reinvestimento na economia que, por seu turno, vai ajudar as empresas a manter postos de trabalho, ou a recrutar novos colaboradores? E a grande questão que se levanta é saber por que razão Fernanda decidiu agora malhar forte e feio numa figura pública como Miguel, mal-amado e controverso, que ela tanto detesta, e porque não o fez no tempo de José Sócrates, Teixeira dos Santos, Pedro da Silva Pereira, quando pelos mesmos motivos (irónico, não é?), ou outros mais graves, nem uma linha a dizer que não gostava deles? Desconhecemos de onde virá tanta acidez intelectual de Fernanda por Miguel. Ou, na pior das hipóteses, como diz o povo, quem desdenha quer sempre comprar. Que Miguel já pouca falta faz ao Governo da República, até dou de borla…
E, afinal, não aconteceu…
Tanta expectativa não valeu de nada. Passamos pela data, e nada aconteceu, nem a tragédia, nem a redenção, nem Noé varou a barca, nem as placas da Terra, dividindo-se, transbordaram de fúria divina. Portanto, e para sermos rigorosos, a data de 21-12-2012 passou discretamente, isto é, sem provocar cataclismos à escala global, em que alguns esperavam o fim da Humanidade. Contudo, não tendo desaparecido a Humanidade, o antes e o depois de 21-12-2012 fez-nos (faz-nos) ver uma realidade outra que está a despontar à escala global – a economia verde. Ou seja: sem o sabermos, ou o sentirmos, todos nós estamos ligeiramente diferentes de há algum tempo a esta parte. Começamos, enfim, a perceber mais objetivamente as alterações que devemos incrementar nas nossas vidas. E se podemos chamar a isso uma mudança, então esta começou há muito tempo atrás.
Com o conhecimento acumulado que se tem, a ação do Homem sobre o Planeta implicaria sermos melhores gestores de recursos do que os nossos predecessores. Como nem sempre foi assim, essa mesma ação teve um impacto irreversível junto da natureza e no seu papel para o nosso conforto e bem-estar. É em plena época de depressão económica que ficamos mais permissíveis a filtrar a realidade que nos assola com uma visão mais abrangente, empenhada e pronta para mudar não sei até onde.
O Mundo mudou, assim como as nossas mentalidades também mudaram. Mas terão as nossas vidas mudado à proporção necessária: não deveríamos nós estar a acelerar as mudanças nas nossas vidas em busca de uma existência menos poluente e mais verde? Sem dúvida que sim.

in Açoriano Oriental, 28-02-2013

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