14 de fevereiro de 2016

"Céu Nublado com Boas Abertas"



"Céu Nublado com Boas Abertas" é um romance, mas bem poderia ser um diário. Já explico: Nuno Costa Santos é o escritor, mas é difícil deixar de ouvir a sua voz e rever a sua personalidade no narrador que é também o protagonista desta história. Explico de outra forma: conheço o Nuno, e o seu percurso, desde muito cedo. Logo compreendo algumas das entrelinhas deste livro.
Editado pela Quetzal, "Céu Nublado com Boas Abertas" é uma história que começa com o pretexto de fazer a vontade tardia do avô, anotada num "recado" deixado propositadamente esquecido num livro, a pedir que fosse encontrado um dia por alguém: "se tiver um descendente que se interesse pela escrita, peço-lhe para ir a São Miguel e trazer no regresso um conjunto de histórias do presente da ilha. Mas não se fatigue demasiado, que viva a vida que não consegui viver."
Repleto de referências a lugares e a factos reais - uns recortados da imprensa local, outros marcantes para a sua geração, e outros mais recentes - este texto é o diário de um regresso à terra do "português", onde o absurdo do que lhe vai acontecendo alterna com o relato escrito do avô sobre a sua luta contra a tuberculose durante a reclusão no sanatório do Caramulo. 
Neste livro, são inúmeras as notas biográficas, e registo a seguinte: "nunca perdoarei à Faculdade de Direito ter sepultado a minha adolescência."
"Céu Nublado com Boas Abertas" talvez porque, como o próprio narrador confessa, na falta da metade cinzenta do céu tipicamente açoriano, sente o vazio interior que o céu azul não preenche.
Parabéns Nuno! E um abraço!

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