Os tempos mudam, os livros ficam. Recorre-se a uma boa
história impressa no papel para esquecer a austeridade e os tempos conturbados
que passam. Escolhe-se um livro para nos desmaterializarmos diariamente da
condição de seres ouvintes-passivos de notícias catastrofistas que nos irrompem
pelas nossas vidas dentro sem pedidos de permissão, “olá, sou uma má notícia
para fazer-lhe companhia durante o jantar”, às quais reagimos impávidos e
tranquilos. Já distintamente se esquece uma boa notícia, daquelas que, por
momentos, parece que vai revolucionar o mundo e nos deixa até comovidos.
Rejeitamos mais facilmente as boas notícias quando em público e na presença de
terceiros, porque na nossa intimidade até gostamos de ouvir falar de heróis
anónimos que cometem atos de coragem e valentia. Assim vão algumas das
histórias que os livros de hoje nos contam, em que heróis à antiga são cada vez
mais raros e deram lugar a híbridos personagens que, por vezes, mesmo roçando a
decadência, são os heróis dos novos tempos.
Mas ainda há histórias das boas, não estou a falar de
clássicos, e quando posso regresso sempre a uma delas. Começo por mapear
mentalmente que tipo de história desejo ler, sem preocupações ou preconceitos
estético-moralizantes. Leio n
sinopses, leio e releio as primeiras palavras do primeiro capítulo, e, ou já há
alguma emoção a faiscar, ou existe a expressão do tédio através de um bocejo, e
passo ao livro seguinte. Ou não se lê história alguma, e abre-se uma biografia,
ou um ensaio, ou um manual de história económica, e, depois sim, perdemo-nos na
leitura.
Após alguns anos a verificar os benefícios da leitura, não
apenas por interesse académico, mas também profissional, só posso concluir que
a mesma faz da maioria seres menos prosaicos e previsíveis. Se ao fazermos
parte de uma gigantesca nebulosa de informação e conhecimento universal, isso
quer dizer que nos integramos sem adversidade numa esfera elevada de partilha
global sem pretensões intelectuais e sem snobismos sociais. Há efetivamente uma
diferença entre pensar que comunicamos com um mundo aberto e sujeito ao
sufrágio popular, do que enfatizar que se comunica com a classe culta local,
atirando com “provincianos incorrigíveis” para a direita, e ofendendo todos com
os quais nos não identificamos ou, pasme-se, consideramos, menos doutos.
Os países mais desenvolvidos têm índices de leitura mais
interessantes do que o nosso. Não está – nem nunca estará - provada a relação
direta entre leitura e desenvolvimento económico, mas é verificável uma maior
propensão para o sucesso de uma sociedade que tenha índices de leitura mais
elevados. Por isso é importante, entre nós, uma pedagogia da leitura. Mesmo
tardia, é sempre melhor do que nenhuma. É que acabada oficialmente a “silly
season”, como parece ter decretado o José Pacheco Pereira no passado fim de
semana, a época é para aproveitarmos o pouco tempo de férias que nos vai
restando com histórias e livros que valham mesmo a pena.
in "Açoriano Oriental", 2 de agosto de 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário